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Atividades Infantis: Territórios educativos vinculados às ações que desenvolvemos na Corrida Amiga

Por Bibiana Tini

“Morar na periferia de São Paulo (Zona Norte) proporcionou um senso crítico e um despertar para observar a cidade de uma outra forma”, afirmou Bibiana, no encontro realizado com as escolas, sobre territórios educativos em tempos de pandemia 

No espaço público, nos deparamos com diversos desafios, diferentes para cada pessoa, e é apenas conhecendo diversos territórios que percebemos como a infraestrutura da cidade não é adequada para todos os perfis de pessoas que temos nas cidades. A criança na cidade também vai se deparar com alguns obstáculos, tendo em vista que a cidade não foi desenhada e planejada através na perspectiva do conforto da criança. Até mesmo no entorno de escolas, em que existe a compreensão de que serão frequentados por crianças e jovens em diferentes turnos do dia, encontramos situações onde a necessidade do automóvel acaba sendo suprida, mas não as do pedestre – o que não é uma solução proporcional à necessidade da população brasileira, que usa maioritariamente transporte público e/ou transporte a pé. 

Quando o desenho das vias e calçadas não é pensado para todos os tipos de transportes, é maior a chance de acontecer quedas nas calçadas ou atropelamentos.

Atividades Infantis Territórios educativos vinculados às ações que desenvolvemos na Corrida Amiga

As cidades estão tendo que se readaptar para esse novo normal. Ao relacionar criança e cidade, pensamos em segurança viária, rota escolar e mobilidade urbana. A criança que se desloca apenas por carro não tem a mesma vivência que a criança que pode experienciar a cidade a pé – a experiência da vivência colabora muito no aprendizado e não pode ser passada apenas através dos livros didáticos. Na sala de aula, usar a cidade como objeto de estudo é um desafio: como traduzir todas essas camadas e dinâmicas da cidade dentro das disciplinas?

“Uma cidade feita na medida das crianças é uma cidade boa para todos” Francesco Tonucci

Ao experienciar a cidade como território educativo, a cidade se torna objeto de senso crítico, lugar de observação, mudança e pertencimento, e assim, se desenvolve a cidadania e a vontade de cuidar do lugar. A partir da visão das crianças, podemos entender as necessidades de percurso dos lugares, descobrir espaços que podem ser lúdicos e criar uma nova relação com eles. No artigo Os lugares da infância na favela (UFRJ) é analisado como as crianças ocupam a favela da Babilônia, criando seus próprios lugares de brincadeiras e de pertencimento, que foram sendo descobertos no estudo de caso. Um empreendimento foi implantado e mudou aquele lugar, sem antes entender, de fato, o desejo das crianças. Depois da construção, elas já não se sentiram mais pertencentes àquele espaço.

No Bonde a Pé, uma das atividades que realizamos nas nossas instituições parceiras, observamos os elementos da cidade e mostramos como a cidade pode ser lúdica, apontando os desafios e oportunidades através da vivência na cidade. O descobrir a cidade amplia os horizontes e agrega valores importantes para a coordenação motora, aumenta a autoconfiança e forma cidadãos/ãs mais ativos/as e envolvidos/as no que está acontecendo ao redor, seja na rua, no bairro ou na cidade.

Algumas referências que criam conteúdo para essa reflexão:

Atividades Infantis Territórios educativos vinculados às ações que desenvolvemos na Corrida Amiga1

Nesse momento da pandemia virão novos aprendizados. Algumas escolas estão retomando as atividades, como na França, onde começaram a organizar alguns critérios de isolamento físico. Nesse caso, o retorno às aulas está sendo feito de forma gradual, às vezes com 9 crianças dentro da sala de aula. Na Dinamarca usam mesas duplas para auxiliar o distanciamento dentro da sala de aula. Porém, como ter o controle desse distanciamento quando falamos de crianças?  

Um texto do El Pais traz algumas perspectivas analisadas através das medidas implantadas até o momento. Apontam por exemplo, que dentro os novos hábitos de lavar constantemente as mãos e contato excessivo com produtos químicos usados para limpar os brinquedos, podem prejudicar a pele e saúde das crianças. Outra perspectiva, é que visualizam este período como uma oportunidade de ter uma escola mais humana e mudar o modo de ensino atual. 

Explorar o uso da sala de aula e ter a quantidade de alunos reduzida, permite um contato mais íntimo e direto do educador com cada aluna/o. Esse tipo de configuração já vinha acontecendo em algumas escolas de metodologias ativas, e nesse retorno às aulas, mostra a importância de refletir e observar a eficiência desse modo de educar, mesmo sendo um desafio implantar na rede pública de ensino. Houve relato de criança que retornou às aulas e identificou que a configuração de turma reduzida, trouxe segurança para si: “como nosso grupo é menor, a gente consegue ter mais confiança na gente”, diz a aluna Avéroné.

Não temos muitas respostas porém devemos continuar pensando em conjunto e visando o que é melhor tanto para os/as alunos/as quanto para o corpo docente.

Bibiana Tini

Arquiteta e urbanista formada pela Universidade São Judas Tadeu e Design de Interiores pelo Senac SP. É pós-graduanda em Arquitetura, Educação e Sociedade, na Escola da Cidade. Atuou na SP Urbanismo (2015) e já colaborou com Bloomberg Iniciativa e Nacto, ITDP e WRI Brasil. Co Fundadora do coletivo Metrópole 1:1 e conselheira no Instituto Corrida Amiga. @tinibibs / @metropoleumpraum

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