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Mobilidade a Pé para crianças: Corrida Amiga no Workshop Vidas Ativas

Nos dias 29 de agosto, 20 de setembro e 18 de outubro Marina Pereira voluntária do Instituto Corrida Amiga participou do Workshop Vidas Ativas! promovido pelo Grupo de Estudo e Trabalho de Letramento Corporal e Relatórios sobre Atividades Físicas e Esportivas- AFEs, representando a ONG.

Agradecemos ao PRODHE pelo convite para o Workshop e a Marina por ter nos representado tão bem nos encontros!

A seguir apresentamos o texto desenvolvido como um dos bons frutos do workshop:

Mobilidade a Pé para crianças: experiências nas escolas públicas de São Paulo

Autores:  Marina Pereira – psicóloga clínica, voluntária do Instituto Corrida Amiga, marinapereira.psico@gmail.com

Silvia Stuchi – Pós-doutoranda em Sustentabilidade EACH-USP, diretora-fundadora do Instituto Corrida Amiga, silviastuchi@usp.br/ silvia@corridaamiga.org

Bruno Oliveira Garcia – Mestrando em Ecologia Aplicada ESALQ-USP, pesquisador do Laboratório de Educação e Política Ambiental (OCA), garciabrunooliveira@gmail.com; 

Marina _ Workshop

Desde 2014 o Instituto Corrida Amiga, vem promovendo a atividade física na rotina das pessoas, por meio da prática do transporte a pé, otimizando tempo e potencializando os benefícios diretos e imediatos na qualidade de vida de quem pratica o deslocamento ativo. Em 2016 o Instituto Corrida Amiga iniciou atividades  teóricas e práticas de mobilidade a pé nas escolas públicas de São Paulo, como:

Circuito do Pedestre: simulação lúdica e divertida da rede de mobilidade a pé das cidades. 

Bonde a Pé: consiste na vivência com as crianças na cidade num trajeto próximo à escola e algum lugar de interesse como praças, parques e outros equipamentos públicos. Durante o percurso, sempre busca-se chamar a atenção dos participantes para alguns pontos, entre eles as dificuldades, ciladas e virtudes encontradas no caminho dos pedestres, seja a acessibilidade, as percepções das diferentes arquiteturas presentes na cidade, ou até mesmo para a vegetação urbana, de modo geral busca-se despertar os sentidos sensoriais para observação da cidade. 

Bonde Cultural a Pé:  é uma realização conjunta do Instituto Corrida Amiga e Canto Cidadão, une a promoção do transporte a pé com o Bonde a Pé junto a intervenções artísticas e educacionais ao longo do trajeto. 

Twister da mobilidade: trata-se da adaptação do conhecido jogo, que integra crianças e adultos, em sua versão voltada às questões de mobilidade e cidadania. O tapete é como um jogo de tabuleiro e contém cinco linhas de grandes círculos, com símbolos de acessibilidade, saúde, mobilidade a pé, meio ambiente, entre outros. 

Atividades como estas encontram espaço para atuarem dentro da educação não formal ou então na educação de período integral. 

Nesse sentido, Gohn (2009) propõe que educação não formal atua, em geral, em espaço extramuros e dedica-se a compreensão dos problemas coletivos voltada à formação para a cidadania e aprendizagem política dos direitos do cidadão. A pesquisadora ressalta também que a educação não formal não é contrária a educação formal, mas sim um complemento e potencializador dos saberes para a vida em coletivo, sendo uma ferramenta importante na construção da cidadania, inclusão e resgate da riqueza cultural.

Novamente diversos aspectos são comparáveis e ressaltados dentro das atividades realizadas pelo Instituto Corrida Amiga, as quais procura-se reforçar a importância da utilização das cidades como instrumento pedagógico e propõe reflexões acerca da necessidade que estas sejam construídas voltadas aos interesses e necessidades dos pedestres e estes, como cidadãos, devam compreender seus direitos e se apropriarem do uso dos espaços públicos. Aqui vale apontar que na compreensão da ONG, uma cidade inclusiva, necessariamente passa por uma reformulação dos espaços públicos, que de mais abertura e espaço aos modais de transporte ativos e coletivos em detrimento do transporte individual e motorizado.

Em relação a educação em tempo integral, esta tem – ou deveria ter – objetivos que tangenciem aspectos culturais, a relação com a comunidade local, família e o diálogo com o território. Estas características reforçam que a cidade não deve ser apenas um local de passagem da escola ou do trabalho para a casa, mas que deve permitir sua apropriação pela população para transformar-se em uma cidade verdadeiramente educadora. Para isso, é fundamental que os espaços públicos estejam disponíveis e que seja promovida a segurança viária (LEITE e CARVALHO, 2016). Neste sentido as autoras ressaltam três pontos importantes para a constatação de um território verdadeiramente educador, são eles:

– a interação entre elementos fixos (estruturas) e fluxos (ações);

– a compreensão da heterogeneidade dos territórios, também compreendido pela sua multiplicidade; e

– a importância do sentimento de pertencimento ao território, também assimilados como sentimentos topofílicos.

Novamente se reforça a inclusão destes aspectos nas atividades realizadas pelo Instituto Corrida Amiga uma vez que este promove atividades (ações) que se apropriam das estruturas de escolas, museus, praças e parques, fomentando reflexões acerca dos diferentes territórios pelos quais é possível cruzar ao se dispor a uma caminhada pela cidade e que ao fazer isso, intrinsecamente se cria um sentimento de apoderamento dessas pessoas para com a cidade em que vivem diariamente e poderiam desfrutar.

Outro ponto interessante abordado é a relação com o trabalho desenvolvido pelos guias/educadores/facilitadores, no exercício não só de fomentar o diálogo e chamar a atenção para o quê, como e quando ver, mas encontrar nele o fio condutor da formação e atentar-se a disciplina e, de certa forma, a vigilância de todo o grupo. Vale ressaltar que quanto mais próximo este facilitador estiver do território, mais fácil será de desempenhar suas atividades.

CONCLUSÕES

No campo da educação torna-se urgente inserir no currículo escolar  metodologias que visem aproximar o cidadão da cidade. Com isso, se vê a importância da missão de uma organização social, que fala sobre pessoas e cidades, entrar no campo educacional. Assim é possível colaborar na troca de experiências, atualização de temas importantes tratados fora da sala de aula e discutir sobre um conhecimento que pode interferir no desenvolvimento físico e cognitivo das crianças.

Ao considerar que andar a pé vai além do movimento do corpo, é possível destrinchar o tema dentro dos campos de estudo, além de ser o meio mais sustentável e saudável de se locomover, segundo pesquisa da ANTP (2018) 41% das pessoas se locomovem a pé no Brasil, porém o contexto urbano destinado aos pedestres não é o mais seguro e acessível para todas as pessoas, o que colabora para desestimular a prática.

O uso das metodologias permitem que se identifiquem como protagonistas do local, considerando ainda, que quem caminha tem mais atenção e sensibilidade com os elementos urbanos do que outros modos de transporte ativos ou motorizados, visto que um pedestre anda, em média, em uma velocidade variada de 0,7m/s a 1,2 m/s (considerando nesse intervalo pessoa adulta, idosa, criança, pessoa com mobilidade reduzida, etc).

Por fim, reforçamos a importância de trabalhar a pauta dentro do território educativo e de que levar as crianças para rua, credibiliza sua presença dentro da comunidade que a escola está inserida além de estimular seu aprendizado fora da sala de aula.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTP Sistema de Informações da Mobilidade Urbana da Associação Nacional de Transportes Público – Simob/ANTP, 2018.

ANTP Associação Nacional dos Transportes Públicos, Mobilidade Humana para um Brasil Urbano – 288p, 2017.

ASSOCIAÇÃO Internacional de Cidades Educadoras. Carta das Cidades Educadoras. 1 ed. Barcelona: 2004. 09 f. Disponível em: <http://www.edcities.org/wp–content/uploads/2013/10/Carta-Portugues.pdf>. Acesso em: 07 jul. 2019.

CORRIDA AMIGA, Balanço de Atividades 2018 – Corrida Amiga Disponível em: https://corridaamiga.org/wp-content/uploads/2018/12/Balan%C3%A7o-de-Atividades-2018-C orrida-Amiga.pdf acesso em: ago 2019.

GOHN, M. da G. (2009). Educação não-formal, educador(a) social e projetos sociais de inclusão social [Versão eletrônica]. Meta: Avaliação | Rio de Janeiro, 1, 1, 28-43.

LEITE, L. H. A., & CARVALHO, P. F. L. de (2016). Educação (de tempo) integral e a constituição de territórios educativos. Educação e Realidade, 41(4), 1205-1226. doi: /10.1590/2175-623660598

 

 

camiga

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