Por Isabela Mello

No encontro realizado com as escolas, sobre territórios educativos em tempos de pandemia, Isabela trouxe a abordagem sobre a visão da criança na questão da mudança de espaços de permanência – fazendo analogias com o conceito de territórios educativos e sua experiência no Canto Cidadão. 

O Canto Cidadão é uma ONG de arte em hospitais, públicos ou filantrópicos. Entre suas diversas áreas de atuação, há o Programa EnCanta, realizando atividades lúdicas-pedagógicas com crianças em brinquedotecas hospitalares. “Há uma Lei de 2005 que regula a implantação de brinquedotecas dentro de hospitais, porém, como muitos hospitais não tem uma pessoa encarregada para cuidar desse espaço, muitas brinquedotecas hospitalares ficam fechadas durante grandes períodos” ressalta Isabela. Diante disso,  o EnCanta surge para ocupar esse espaço da brinquedoteca, atuando com arte em atividades de contação de histórias (atividades de contação e recontação), de artes plásticas (desenho e criação) e com atividades teatrais (de representação).

“O “método EnCanta” é esse processo de realização de atividades, muito vivo, lúdico e interativo. Contudo, essa é uma das poucas situações onde a criança no ambiente hospitalar pode falar “não”, assim, esse passo a passo pode mudar, sempre se baseando no que a criança quer fazer no momento” Isabela Mello 

O EnCanta atua em algumas áreas de atendimento: no Pronto Socorro, nas áreas de exame e nas áreas de internação (leitos e brinquedotecas). As crianças que precisam ser internadas experienciam uma quebra na rotina delas, em um espaço totalmente desconhecido, com cores e sensações novas e sem controle de quando vão poder voltar para suas casas. Agora, as crianças também estão experienciando essa quebra na rotina delas, sendo obrigadas a ficar em casa devido ao período que estamos vivendo.

Assim como no hospital, trazer essas atividades lúdicas e pedagógicas para dentro das casas é a melhor maneira para tornar essa experiência mais agradável para as crianças. 

Sendo na cidade, em casa ou no hospital: todos os espaços podem ser lúdicos. 

A vivência no ambiente hospitalar impacta a criança, que sente um clima diferente do que está acostumada, e muitas vezes o nervosismo e ansiedade de seus familiares. Assim, a brincadeira e o faz de conta são práticas essenciais para a internalização da realidade da criança, que pode entender o contexto da situação que ela está vivendo e internalizar isso como a realidade dela. 

A Cartilha “Falando com Crianças: Dicas para cuidadores, pais e professores durante surtos de doenças infecciosas” traz essa ideia de “desadultizar” os espaços, entrar no lado lúdico da criança e fazer parte do faz de conta para facilitar a conversa sobre essa temática e passar as informações necessárias para as crianças.

No ambiente hospitalar, é necessário estar atento/a com a higienização o tempo todo. As crianças não podem se abraçar muito e há um cuidado constante com a higienização dos brinquedos (por exemplo as crianças às vezes os colocam na boca) – porém nada disso impede a realização das atividades. A higienização até vira parte da brincadeira com a “música da higienização” que lembra as crianças a lavarem as mãos com álcool gel a cada meia hora (produto que não é nocivo para elas). A Cartilha de Higienização em Hospitais desenvolvida pelo Canto Cidadão promove esses cuidados com as bactérias e germes de forma lúdica, pensado na visão da crianças. 

Isabela Mello

Isabela é estudante de Pedagogia no Instituto Singularidades e, desde 2018, trabalha na ONG Canto Cidadão. Atualmente, atua na área de gestão de projetos socioculturais, atuando na linha de frente com o EnCanta, que promove atividades voluntárias em brinquedotecas de hospitais públicos e filantrópicos. É responsável pela capacitação inicial e continuada dos voluntários, atuando na área conceitual e prática, assim como o acompanhamento do dia a dia dos voluntários. @primtniss / @canto_cidadao