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Mobilidade a pé: envelhecimento ativo e bem-estar

No mês de março, recebemos um convite para falar sobre envelhecimento ativo em uma entrevista para a Revista do Clube Paineiras do Morumby. Maria Lima, doutora em Gerontologia e voluntária no Instituto Corrida Amiga, e Ana Galdino, profissional de Educação Física no Instituto Corrida Amiga, puderam discutir o tema e disponibilizaram um resumo para o nosso blog, confira a seguir!

No decorrer da entrevista foi discutido o termo Ativo como compreensão daquele que constrói, ao longo da vida, meios de facilitar o movimento corporal para suas atividades cotidianas — independentes e com os outros, em diversos ambientes. O termo “envelhecimento ativo” adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2005) trata-se do “processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas”. Sendo assim, a palavra “ativo” faz referência à participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis à medida que se envelhece, e não somente à capacidade de estar fisicamente ativo ou de fazer parte da força de trabalho.

Nesse processo, a manutenção da mobilidade é fundamental para o envelhecimento ativo e não depende somente das condições clínicas e de saúde dos idosos, mas também da adequação do meio onde eles vivem amplamente definida como a capacidade de mover-se dentro de ambientes da comunidade que se expandem do lar para a vizinhança e para outras regiões da cidade, seja a pé, usando dispositivos de assistência ou usando transporte. Para isso, é necessário oportunizar ao público idoso a ocupação desses ambientes. Além disso, ressalta-se que, segundo a Lei Nacional de Mobilidade Urbana (Nº 12.587/2012), considerando o princípio da acessibilidade universal, a cidade deve ser acessível para qualquer tipo de pessoa, de qualquer idade, com qualquer tipo de dificuldade motora ou deficiência.

Destacamos alguns indicadores de qualidade dos ambientes esportivos:

  • Ambientes sinalizados;
  • Orientações de uso e sugestões básicas de exercícios físicos;
  • Avisos e distribuição de informes sobre saúde; 
  • Acessos com vias de conexão para pistas de caminhantes e corredores, todas promovendo diversidade de mobilidade e acessibilidade.

Na entrevista também foi falado sobre os benefícios da mobilidade ativa à saúde. De acordo com a OMS (2020), a população idosa que realiza de 150 a 300 minutos de atividade física aeróbica moderada por semana obtém menores riscos de mortalidade precoce por todas as causas, prevenindo doenças cardiovasculares, hipertensão, cânceres e diabetes tipo 2. Lembrando que são caracterizadas como atividades físicas moderadas aquelas que você consegue praticar e falar sem perder o fôlego. A caminhada como meio de locomoção é um bom exemplo desse tipo de atividade física que pode ser integrada às práticas semanais, tornando-se uma excelente ferramenta de manutenção da nossa capacidade aeróbia e ampliação das atividades funcionais e sociais.

Diminuir riscos de quedas é também uma preocupação nessa fase, e a prevenção de lesões relacionadas a quedas e declínios da saúde e capacidade funcional pode ser alcançada através da prática regular de atividades físicas. Como colocamos em nossa cartilha de mobilidade urbana e pessoas idosas (Corrida Amiga, 2019), entendemos que a prevenção de quedas vai além da acessibilidade dos espaços. Reforçamos que é preciso participar de programas de exercício físico que visem o desenvolvimento de força, equilíbrio e coordenação, assim como realizar consultas médicas e acompanhamento com profissionais de saúde.

Com relação às doenças neurodegenerativas, são grandes as perspectivas do exercício na prevenção e tratamento de doenças que afetam nosso sistema nervoso central (Carvalho; Gomes, 2020). Quanto aos aspectos psicológicos, é também influenciado positivamente na redução dos níveis de cortisol (hormônio responsável pela regulação do estresse no organismo), tensões e demais sintomas de ansiedade e depressão, além do aumento da serotonina (hormônio regulador do humor) e seus efeitos na melhora da qualidade do sono, do apetite e do bem-estar. 

Por fim, ressaltamos nossa compreensão que o envelhecimento ativo e saudável corresponde ao equilíbrio biopsicossocial, a preservação da autonomia e independência e  a integralidade do idoso inserido no contexto social, que se estende desde o ambiente em que se mora até seu deslocamento pela cidade para diversos fins. Desta forma, em consonância com o Estatuto do Idoso de 2003, torna-se fundamental o apoio do Estado, da família, da sociedade, da rede de amigos, dos grupos e de instituições que atuem de forma intersetorial e interdisciplinar, em prol do envelhecimento ativo na luta contra o idadismo. É preciso estabelecer ações e ambientes favoráveis, seguros e atentos às necessidades dos idosos, que sejam convidativos para que possam se manter ativos. 

Confira aqui a entrevista na íntegra.

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Referências:

Brasil (2003). Lei Nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Estatuto da Pessoa Idosa.

Brasil (2012). Lei Nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012. Política Nacional de Mobilidade Urbana. 

Carvalho LPC, Gomes JLB (2020). Comentário sobre: Bente Klarlund Peddersen, Atividade física e interação-ação músculo-cérebro.

Instituto Corrida Amiga (2019). Cartilha Mobilidade Urbana e Pessoa Idosa. Disponível em: http://corridaamiga.org/wp-content/uploads/2019/07/Cartilha-Mobilidade-Urbana-e-Pessoa-Idosa-1.pdf. Acesso em: mar. 2021. 

OMS (2020). Organização Mundial da Saúde. Guidelines on Physical Activity and Sedentary Behaviour. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/336656/9789240015128-eng.pdf. Acesso em: mar. 2021.

OMS (2005). Organização Mundial de Saúde. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Tradução de Suzana Gontijo. Brasília, 2005.

PNUD (2017). Relatório Nacional de Desenvolvimento Humano – Movimento é Vida: Atividades físicas para Todas as Pessoas: 2017. Brasília, 2017.

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