Por Marcela Novaes
No encontro realizado com as escolas sobre territórios educativos em tempos de pandemia, Marcela apontou que “Com as escolas e instituições, temos o objetivo de estabelecer um maior contato entre essas comunidades parceiras e seus territórios e construir juntos uma cultura de relação mais consciente e ativa com a cidade. Estas são sempre correalizadoras e corresponsáveis pelas ações realizadas” .
As atividades principais são o Bonde a Pé, o Bonde Cultural a Pé e o Circuito do Pedestre.
Antes de realizarmos as ações, há todo um processo de planejamento anterior entre o instituto e os locais parceiros envolvendo agendamento, inscrição de voluntários/as, checagem de rota ou do espaço em que será feita a atividade, termos de autorização e cessão de imagem no caso de menores de idade, transporte dos equipamentos etc. No dia, já na escola ou instituição, o/a facilitador/a e os voluntários/as se reúnem ao representante/coordenador(a), que faz a mediação entre nós e os/as participantes da atividade, nos indicando o local de organização, horário em que cada turma irá fazer, colaborador(es) que irá(ão) acompanhar etc.
Há sempre um momento de sensibilização antes das atividades. Começamos com a conscientização de que somos todos pedestres, por mais que se use outros tipos de transporte e atentamos para o detalhe de que existem tipos diferentes de pedestres que possuem suas particularidades e necessidades, assim como atentamos para o uso nomes corretos para nos referir a grupos de pessoas (pessoa idosa, pessoas com deficiência física/visual/auditiva, mobilidade reduzida). Essa etapa da atividade é um diálogo entre facilitador/a, voluntários/as e participantes, permitindo que todas as partes possam responder, comentar e acrescentar. No caso de escolas, realizamos essa etapa em sala de aula, pois sabemos que os estudantes se animam muito e, ao saírem da sala o foco se volta totalmente para a atividade.
O Circuito do Pedestre é uma dinâmica que simula de forma lúdica as regras de trânsito e obstáculos que são encontrados pela cidade (como semáforo, piso tátil, faixa de pedestres, bueiros, fios de eletricidade soltos, buracos, lixo) a partir de diferentes estações representados por meio de objetos como cones, jump, step, piso tátil, faixas e cordas, permitindo que, para cada um deles, as crianças façam tipos diferentes de movimento.
Nessa atividade há o cuidado de nós, voluntários/as, nos dividirmos pelas estações, para que tenhamos atenção em todas as etapas, especialmente as que oferecem mais riscos como as de mudança de piso (jump e step).
Há sempre um ou mais voluntários/as responsável(is) pela distribuição de vendas e bengalas ou faixas limitadoras para que as crianças experienciem o que pessoas com deficiência visual, idosas ou com mobilidade reduzida enfrentam. Temos o cuidado de avisar às crianças que nem todas irão utilizar, até para evitar brigas entre elas.
Ao final, retiramos ou viramos para baixo os objetos de maior risco e reunimos a turma para retomar o que foi aprendido.
O Bonde a Pé é uma caminhada feita ou pelo território da escola ou instituição ou com o objetivo de chegar a algum lugar específico, como um museu ou parque, de acordo com as necessidades ou proposta da instituição.
O Bonde Cultural a Pé consiste em caminhadas com intervenções artísticas itinerantes realizadas em parceria com a organização Canto Cidadão, podendo encenar personagens históricos relacionados aos nomes das ruas do entorno ou outros personagens que promovam a educação às crianças junto à caminhada. Todo o conteúdo é fornecido pela cidade: nomes de ruas; personagens que contam a história do bairro; árvores históricas; etc, visando que o currículo pedagógico escolar propõe no momento.

Os cuidados tomados aqui por nós voluntários/as se resumem a seguir à risca aquilo que passamos por meio das sensibilizações, ou seja, caminhamos apenas pela calçada, atravessamos apenas na faixa e no sinal verde e instruímos para que as crianças ou adultos façam o mesmo. O bonde nunca se desmembra e sempre nos organizamos de maneira que fique pelo menos um conduzindo e um no final, assim como o restante cercando a fila. Pedimos que os/as participantes andem juntos e em duplas, especialmente as crianças, que pedimos ainda que andem de mãos dadas.
Algumas atividades novas já estavam em desenvolvimento e já iriam ser colocadas em prática em Abril. São elas:
Dinâmica com o corpo: Jogo onde, a partir de um trajeto de A até B, os participantes indicam por meio de desenho ou mímica, o que pode tornar esse trajeto mais agradável, pensando também nos diferentes tipos de pedestres;
Perguntas e Respostas: Um caminho simulando uma calçada real com obstáculos é feito e as crianças devem percorrê-lo. Ao final, elas respondem uma pergunta sobre mobilidade (ex: atravessar na faixa) e a cada resposta certa, um obstáculo é retirado.
Espaço dos sonhos: Após uma sensibilização com temas e conceitos relacionados a mobilidade, as crianças se separam em grupos, e cada grupo recebe um mapa de um bairro onde, com lápis, canetas e/ou colagem de imagens, as crianças mostram o que pode tornar o ambiente mais agradável para elas.
A Corrida Amiga suspendeu suas atividades, algumas já agendadas, inclusive, assim que foi recomendado e, desde então, realizamos encontros e discussões por videoconferência e disponibilizamos materiais da metodologia adaptada para ser feita em casa.
Por mais que nossas atividades sejam, na grande maioria das vezes realizadas em ambientes externos e abertos, estamos desde já pensando em adaptações para depois da pandemia, e ainda não há nada muito concreto, mas reforçar a higiene, fazer uso de álcool em gel, não permitir que os participantes compartilhem materiais e evitar contatos muito próximos já são certezas. Para atividades com crianças, uma alternativa é fornecer uma fita para que elas segurem ao invés de dar as mãos.

Marcela Novaes
Artista educadora. Graduada em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Londrina, especialista em Museologia pela Belas Artes e em processo de formação em ensino de artes Waldorf. Trabalha como professora de artes na rede pública municipal de São Paulo. É caminhante e ciclista e acredita nessas práticas como fontes de experiências estéticas. Voluntária da Corrida Amiga desde 2019. @mercalanavoes