Atividades Infantis: A adaptação das metodologias da ONG para serem desenvolvidas em casa

Por Graziela Mingati

No encontro realizado com as escolas sobre territórios educativos em tempos de pandemia, Graziela falou sobre a iniciativa de adaptar as metodologias da ONG para serem desenvolvidas em casa, que surgiu a partir do seguinte questionamento: se durante o isolamento social, o espaço em que vivemos está limitado à residência, por que não se conectar com ela de maneira lúdica e divertida? Com isso, foi proposto e realizado um trabalho colaborativo do voluntariado do Instituto Corrida Amiga com a participação do Ocupa Baby, cujo objetivo foi compilar as atividades infantis desenvolvidas e propor alternativas para serem praticadas em casa durante e pós pandemia. 

“Um dos pontos relevantes que foi abordado nesse processo de adaptação foi a consciência de que as dimensões da experiência humana – sejam elas intelectual, física, social, cultural e/ou afetiva – são indissociáveis dos contextos em que vivemos. Sendo assim, o ponto principal levantado é como podemos explorá-las de acordo com a diversidade encontrada. Para isso, destaca-se a importância dos processos educativos serem contextualizados, ou seja, estarem de acordo com a realidade específica da escola e dos alunos. Além disso, as atividades propostas devem ser acompanhas por uma introdução ou aproximação com o tema trabalhado: transporte a pé; cidadania; direito à cidade e ocupação do espaço público; meio ambiente e sustentabilidade e até mesmo transformação social, para que o resultado seja de aprendizagens significativas que proporcionem um impacto na vida das crianças” aponta Graziela.

Ademais, as adaptações foram pensadas levando em consideração as diferentes tipologias residenciais. Então, as atividades podem ser desenvolvidas em espaços bem pequenos, como também em uma residência com área externa em que elas podem ser exploradas ainda mais.

Acreditamos que todo território pode ser educativo, por isso destacamos a criação de diálogos com outros tempos, espaços e saberes, trazendo o local de convívio, cuidado e interação social para dentro de casa e, dessa forma, vinculando os espaços públicos – escola e cidade – e privados – casa – neste momento de isolamento social. Dessa forma, proporciona-se a diversificação de linguagens e a escola atua como articuladora nesse processo educativo.

A primeira sequência de atividades adaptadas é do Circuito do Pedestre. A proposta é que as estações do circuito possam facilmente ser construídas em casa com objetos e recursos materiais disponíveis, ou seja, de nenhum ou baixo custo que facilitem a exploração e experimentação pela criança, como os próprios móveis, almofadas, tapetes, EVA, caixas, barbantes ou fitas, fita adesiva, giz, entre outros.

As estações simulam as mais variadas situações de nosso sistema de mobilidade e a proposta é reproduzir os obstáculos encontrados nas calçadas, como mudança de piso, degraus e buracos, que reduzem a acessibilidade das pessoas. Algumas estações como o Semáforo e a Acessibilidade, além da simulação da mobilidade ativa, podem ser trabalhados importantes temas, como segurança viária, direito do pedestre, diversidade, empatia e inclusão social.

O segundo bloco de metodologias se refere ao Bonde a Pé. Além das propostas de adaptação, também estão disponíveis os diários do bonde, que podem ser utilizados como uma valiosa ferramenta de registro das observações durante a experiência. A questão chave na adaptação dessas atividades é criar uma conexão com o exterior. Uma vez que as crianças estão em ambientes familiares, explorar a imaginação, a memória e as experiências do cotidiano torna-se fundamental para criar a ambiência da atividade. Nas dinâmicas apresentadas, a criança é protagonista e é ela quem traz a demanda de aprendizado, sendo ele interdisciplinar. Nesse bloco também é explorada a intermodalidade, destacando o ensino sobre os assentos preferenciais nos transportes públicos, a simulação de trajetos cotidianos e a identificação de pontos de interesse.

A terceira metodologia adaptada é o Twister da mobilidade que pode ser construído com fitas adesivas ou papéis e objetos coloridos. Para a realização da atividade, está disponível uma lista de perguntas e respostas que a ONG utiliza durante essa dinâmica nas escolas, mas as perguntas podem ser personalizadas e criadas em conjunto pelos educadores e familiares, explorando os temas da mobilidade urbana, da inclusão, do meio ambiente, da saúde e do esporte.

E, por fim, a última metodologia apresentada é A cidade em casa, cujo objetivo é trazer a cidade para dentro de casa e recriar os espaços urbanos que ocupamos e por onde circulamos. Abordamos duas formas de experimentação: a primeira delas é através da criação de maquetes reproduzindo a cidade, o bairro, a escola ou a casa; a segunda forma é criar o espaço na escala 1:1, ou seja, no tamanho da criança. Podem ser utilizados diversos materiais recicláveis de baixo custo que já possuam em casa, objetos de decoração e até mesmo os móveis – uma mudança de lugar e composição cria novos espaços e os móveis podem virar mesas e bancos de um parque, por exemplo. A imaginação e a criatividade devem ser exploradas nessa atividade!

Nessa metodologia também é proposta a criação da cidade dos sonhos em que, através de desenhos, colagens e pinturas, a criança possa representar como ela imagina que seja uma cidade ideal para ela, como ela acha que será pós pandemia ou até mesmo como ela enxerga o local em que vive. Com essa atividade, as dimensões afetiva ou emocional – que diz respeito ao autoconhecimento e ao sentimento de pertencimento – e a cultural – que possui relação com a identidade e respeito às diferentes perspectivas – são exploradas e desenvolvidas.

Com isso, a aplicação dessas atividades, durante a pandemia em casa e após o retorno das aulas presenciais, pode contribuir com o desenvolvimento integral e com a aprendizagem contínua. Também é importante que o projeto seja coletivo e compartilhado entre educadores, família, comunidade, ONGs e governo.

Algumas pessoas já realizaram as nossas metodologias adaptadas em casa! Confira os resultados:

Graziela Mingati

Arquiteta e urbanista formada pela Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Realizou intercâmbio através do Programa Ciência sem Fronteiras na Universidad Politécnica de Madrid, onde cursou Fundamentos de la Arquitectura na Escuela Técnica Superior de Arquitectura. Voluntária da Corrida Amiga. @gramingati

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