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Gente que Inspira: Paulinha Pedestre

GENTE QUE INSPIRA

“O meu maior sonho: ser andarilha, e sair pelo mundo a ajudar os que necessitam de, pelo menos, uma palavra de conforto.”

                                                      Paulinha Pedestre. Brasília. Embaixadora Corrida Amiga.

 

Paulinha Pedestre, Embaixadora do Instituto Corrida Amiga em Brasília é pesquisadora da área de mobilidade desde 2004, líder do grupo de pesquisa PES Urbanos, vinculado ao CNPq, e City Organizer das caminhadas Jane’s Walk, em Brasília.

Antes mesmo de saber o que significa ativismo, era ativista!!  

Acredita que a cidade é o espaço de encontro democrático, onde  pessoas de todas as classes sociais coexistem, e pode ser definida como o palco onde o pedestre é o protagonista, faz parte do cenário, tornando-o vivo e ativo com a sua simples presença.

Seus deslocamentos são realizados, na maioria das vezes, a pé, de transporte público, de carona solidária e de bicicleta, podendo assim transmitir  seus “bom dia!”, ditos em sorrisos largos, aos colegas que caminham.

Nos conta, Paulinha Pedestre, que com o dinheiro que economiza se deslocando a pé viaja, anualmente, a Lisboa. Quer descobrir um pouquinho mais sobre ela e o Transporte a Pé? Confira a entrevista na íntegra:

 

  1. O que significa: transporte a pé para você?

Significa saúde, liberdade e uma forma lúdica de se relacionar. É por isso que quando encontro obstáculos à realização deste ato tão inerente ao ser humano, sinto-me tolhida do maior direito que um ser humano pode ter, o poder ir e vir.

  1. O que é a rua?

É o espaço de encontro mais democrático de uma cidade, onde coexistem pessoas de todas as classes sociais, de todos os credos e religiões, de todas as opções sexuais, de todas as nacionalidades, de todas as raças, de todas as faixas etárias…enfim, é um espaço de convergência e de vida urbana, ou, pelo menos, deveria ser. Mas, infelizmente, há casos em que isso não acontece, tal como em cidades como Brasília, que apresenta características que repelem as pessoas dos espaços públicos e Jane Jacobs, já na década de 60 explicava este processo.

  1. Para você qual a diferença da “cidade do outro lado do vidro – do automóvel” e da cidade sob seus pés?

A diferença está no se fazer presente. A cidade aos olhos dos que estão dentro do automóvel (a uma velocidade de pelo menos 60km/h) restringe-se a um filme que passa em alta velocidade e sem qualquer interação por parte de quem o “assiste”. Por outro lado, aos que estão a uma velocidade de 5km/h (velocidade média de um pedestre), a cidade é o palco e o pedestre, o protagonista, pois além de sentir o espaço urbano, ele (o pedestre) faz parte do cenário, tornando-o vivo e ativo com a sua simples presença.

  1. Há quanto tempo você se desloca a pé?

Verdadeiramente, desde que nasci…hehehe. Desde o tempo da escola (em Belém-PA) sempre ia para escola de ônibus e complementava o percurso a pé, para evitar pagar duas passagens.

  1. Quantas vezes por semana você se desloca a pé?

De 5 a 7 por semanas, mas pelo menos 2 vezes ao dia.

  1. Você utiliza, exclusivamente, o transporte a pé?

Não.

  1. Quais outros meios de transporte você costuma utilizar?

Utilizo também muito o ônibus. A bicicleta é um meio que ainda não aderi com frequência no dia a dia, mas algumas vezes a utilizo no deslocamento casa-trabalho. E a depender da hora (principalmente à noite para longas distâncias) utilizo o UBER ou táxi. Ademais, a depender das condições, também aceito caronas dos amigos (risos!).

  1. O deslocamento a pé economiza tempo e dinheiro?

Com certeza, e muito! Tanto que com o dinheiro que economizo, viajo anualmente para rever amigos na minha cidade preferida, Lisboa.

  1. O que mudou na sua vida a partir do momento em que optou pelo transporte a pé?

Na verdade, como eu sempre utilizei o meio de transporte a pé, considero-me uma pessoa de bem com a vida. E mesmo que esteja com problemas, todos sempre ouvirão o meu “bom dia” acompanhado de um largo sorriso.

  1.  Quais são as maiores dificuldades para que mais pessoas optem pelo deslocamento ativo?

Em se tratando do Brasil, acredito que há duas grandes dificuldades: (1) acima de tudo, encarar o medo do espaço público. Mas acredito que se mais pessoas utilizarem o espaço, haverá uma redução da violência. Ocorre que, no Brasil, o carro sendo sinônimo de “status, poder e dinheiro”, inevitavelmente, ele será cobiçado e, portanto, será foco da bandidagem. Por outro lado, se as pessoas estão nos espaços públicos juntamente com todos sem ostentação, os bandidos possivelmente se questionarão se elas têm algo a lhe oferecer, e acabam por achar que não. Assim, penso eu. Como fui vítima de um sequestro relâmpago estando no carro de um amigo, e no espaço público nunca me aconteceu nada, tendo a acreditar nesta teoria. E em seguida, (2) a questão da estrutura física do espaço, pois o fato de as calçadas serem a parte mais menosprezada da infraestrutura pedonal, muitas pessoas evitam caminhar para que não tenham problemas como quedas ou machucados, ou até mesmo, em dias chuvosos, se sujarem com a lama acumulada nas calçadas.

  1.  O que você diria para as pessoas que gostariam de experimentar o transporte a pé?

A vida é muito curta para ficarmos enclausurados dentro de uma máquina que fomenta a competição, a raiva, além de poluir significativamente o ar que respiramos. O mundo precisa de amor, que pode ser transmitido e sentido com um simples “bom dia!” ou com um sorriso para o nosso colega pedestre. “Mais amor, menos motor!”.

  1.  O que você poderia fazer para estimular as pessoas a utilizarem o transporte a pé?

Tive um pai militar que queria impor sua opinião com a simples justificativa de que ele era o pai e, portanto, mandava. Eu, com o passar dos anos, aprendi que muitas vezes não precisamos dizer nada, o recado é dado apenas com o exemplo.

  1.  A Corrida Amiga te ajudou neste processo? Facilitou? Inspirou?

A Corrida Amiga (CA) sempre ajuda, pois, se antes eu só caminhava ao trabalho, agora, venho ponderando a possibilidade de ir correndo, tal como vocês do CA sugerem. É que até 1 ano atrás não podia correr por conta de problemas no joelho, mas após tratamento já consigo.

camiga

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